sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Solitáte

Back from hell

Duas semanas de gripe, de neura, a sentir-me em baixo, metido na cama debaixo de cobertores que por mais que fossem quentes não me tiraram o frio causado pela febre... duas semanas com uma gripe nórdica (felizmente ainda não foi desta que apanhei a mexicana!). Agora que passou sinto-me novo, acho que esta gripe veio limpar, purificar, libertar todos os demóniozinhos que andavam pelo meu corpo e mente. Sinto-me forte e enriquecido, e com uma vontade de (re)começar uma série de coisas que à muito tempo ando a pensar fazer e arranjo sempre desculpas para adiar.
Uma boa sensação para uma 6a feira, um bom começo de fim-de-semana!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Inércia

Ora aqui está uma palavra que me define bem. Inércia... nada para fazer, nada que me satisfaça dentro das tarefas que tenho para fazer, nada que não me dê medo fazer pela primeira vez. Inércia. Não fazer nada nem fazer nada por fazer algo. Ás vezes sinto-me como se tivesse morrido à uns anos atrás e nunca tivesse voltado daquele mundo de alcoól e vícios. Não bebo, mas não abandonei o círculo viciante de não viver. Vivo sem alcoól, mas não vivo. Mas vivo para não querer beber outra vez. Para mais nada.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Vontade de mudar o medo

Tenho 37 anos e detesto o que faço. Faço o que sempre quis fazer e por isso até pode parecer que estou satisfeito com a minha escolha, mas o que faço todos os dias cansa-me e faz-me sentir um velho de 100 anos. O meu trabalho é um beco sem saída, um vira o disco e toca o mesmo de matéria ensinada a alunos que não querem aprender nada de números e equações. É um dar constante e cansativo sem receber muito em troca. Chumbo mais do que passo os meus alunos e ao contrário de colegas professores filhos da puta que o fazem com prazer, gostava que fosse diferente. Mas não posso dar uma nota positiva para me enganar a mim memso, para fazer um aluno mais bem disposto, para fingir ainda mais que o meu trabalho é uma maravilha. Destesto o que faço e não consigo mentir, nem que seja para fingir que o que faço é mais gratificante. Nem sei se os meus alunos simpatizam comigo. Acho que sentem respeito pelo meu silêncio e aspecto sério, mas gostar de mim não devem gostar. Gostava que gostassem de mim, mas eu também não gosto deles a maior parte do tempo e gostar tem que vir de dois cantos, isso aprendi com os meus pais. A única lição que os meus pais me conseguiram dar sem tentarem. Eles desprezaram-me, negaram-me afecto e atenção, por isso por mais que eu desejasse ter uma relação diferente com eles, nunca os consegui amar.
Sou novo mas sinto-me velho. Tenho uma vida à frente de mim, mas sinto-me morto. Preciso de mudar o que faço, mas não sei o que fazer a seguir. Aproxima-se uma fase de decisão, o que me assusta porque tenho medo de mudanças e coisas novas e diferenets aterrorisam-me. Mas ou é isso ou o voltar a caír no vício de me afogar. Afogar-me em álcool outra vez será a minha morte e ainda não estou preparado para isso. Até de morrer tenho medo.
Sinto-me farto e cansado da chatice que é a minha vida. Sinto-me só e gostava de ter alguém mas não consigo liquidar o meu medo de me entregar e a minha tendência de encontrar defeitos em todas as mulheres que conheço (não todas, só aquelas onde existe a possibilidade de um romance), à espera que um dia a mulher perfeita me caia aos pés. Isso nunca irá acontecer! Mesmo que aconteça vou encontrar defeitos para lhe apontar e esse será o meu pretexto para lhe virar as costas e para virar as costas a uma possibilidade de ser feliz ao lado de alguém. Quero muito, mas tenho medo de sentir, de dar, de me entregar, de perder. Sou um chato, provavelmente a mulher perfeita até existe, mas porque olharia para mim?
Gostava de chegar ao trabalho ámanhã e de me sentar com o director para lhe dizer de sorriso na cara que páro. Acabou-se. Nào quero dar mais aulas, nem aqui nem noutra escola qualquer. Quero retirar-me de todas as formas de rotina possíveis, quero viver sem ter que viver, quero libertar-me das responsabilidades chatas que tenho que ter para pagar as contas, quero sentar-me o dia inteiro de pijama e chinelas a ler livros e ver filmes se me apetecer, quero passar dias seguidos sem tomar um duche caso não sinta vontade para o fazer, quero deixar de ter que saír de casa de manhã e de fingir que vivo, quero parar. estou cansado. Ou é isto ou alguma coisa diferente, mas não quero cotinuar onde estou.Durante muito tempo achei estar cansado de viver, mas eu quero viver. Tenho medo da morte. Estou é cansado desta forma de vida e quero outra. Quero outra vida que me dê mais do que tenho. Quero mudar. Mas tenho medo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vidēre...

Satisfaz-me, ensina-me, completa-me, enriquece-me, conforta-me, tira-me da solidão. Há quem chame a isto voyeurismo, mas como sempre que oiço a palavra voyeur associo a algo de errado ou a algo que ligado a alguma gratificação sexual, prefiro o latim vidēre.
Quando eu era novo a casa onde eu morava com uns pais lunáticos era o lugar mais assustador do mundo, era através da janela do meu quarto que encontrava muitas vezes o alívio que precisava, a busca e o escape para algo diferente da minha realidade. Olhava para as pessoas que andavam na rua, para as crianças que jogavam à bola na praceta e subiam às árvores, para a mulher que vivia no prédio à frente do meu e que pendurava a roupa no estendal todas as tardes, para aquele homem de idade que se sentava numa poltrona de cachimbo na boca a ler um livro no andar debaixo da mulher da roupa... era o olhar para diferentes vidas que me distraía da minha, que me levava para outros lugares e que me fazia acreditar que um dia, quando fosse mais crescido e podesse saír dali, poderia também ter uma vida assim, banal e simples, com altos e baixos como toda a gente. A minha infância foi um poço fundo e escuro e ainda não saí completamente dele.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Não sei o que se passa comigo. Nunca sei o que fazer. Nunca sei nada. Normalmente não faço mesmo rigorosamente nada, ao menos diminuo as possibilidades de cometer erros. Tenho um medo gigante de falhar. Prefiro não fazer nada ou fazer o mínimo possível, mas nunca sei o que fazer, o mínimo que seja. E imaginem se eu pegasse numa folha de papel e lápis às cores, na tentativa de fazer um desenho qualquer para me entreter e o desenho ficasse uma merda? Não. Prefiro nem tentar. Tenho medo de falhar. Tenho medo...
É aborrecido não fazer nada, mas a minha vida é aborrecida. Até os meus sonhos são chatos e desinteressantes. Esta noite sonhei que tinha comprado uma máquina de lavar a loiça e que a vinham entregar aqui a casa durante a tarde. A hora exacta, não me poderam garantir, mas seria algures entre o meio-dia e as 5 horas da tarde. Sentei-me a tarde inteira no sofá, à espera, e às 4h45m lá tocaram à campainha. São estes os sonhos que eu tenho. Há tempos sonhei que era um super-herói. Durante o dia um homem que vivia uma vida pacata e aborrecida e à noite combatia o crime. Na primeira parte acertei em cheio, mais pacata e aborrecida a minha vida não podia ser. E ainda há pessoas que dizem : "vive todos os dias como se fosse o último". Era bom, não era? Que eu tivesse vontade de ír a algum lado e fosse mesmo, que eu quisesse andar de montanha-russa e o fizesse, que eu quisesse meter conversa com a vizinha do lado e o conseguisse fazer sem medos, que eu quisesse fazer algo novo e me atrevesse. Viver todos os dias como se fosse o último!... Tentei uma vez e foi deprimente, a planear o meu funeral

domingo, 4 de outubro de 2009

Segundos depois de ter saído daquela reunião arrependi-me de não ter morto todos os presentes que ainda ficaram na sala a conversar, a beber café e a fumar cigarros, a debater assuntos supostamente interessantes, a fingirem suportar-se uns aos outros. Queria ter uma arma comigo e ter dado um tiro no meio da testa de cada um dos meus colegas. À excepção da Janneke uma gaja porreira, é tudo estupido. Que bando de hipócritas, que bando de tristes figuras, que bando de merdas é o que são!
Tenho dias em que detesto o que faço, em que questiono a minha escolha profissional, mas sei que estas questões são devidas ao facto de trablhar com um grupo de pessoas que não valem nada, numa escola que não vale nada. E não tenho estaleca para desistir e começar de novo. Só precisava de me transportar para outro lugar que tudo o que eu faço seria nada problemático. O problema nunca sou eu, são os outros e tudo o resto. Chamem-me um cobarde de primeira linha que foge às responsabilidades e que culpabiliza tudo pelas suas falahas ao invés de si mesmo, mas eu é que sei. Sim, sou teimoso também, mas sei quando tenho razão. Também consigo admitir quando estou errado e isso acontece frequentemente, acreditem. Antes que alguém me chame de fraco ou de cobarde já eu o anunciei no jornal. Nunca sei tomar decisões acertadas ou se as tomo é tarde demais, mas nunca aprendi a fazê-lo. Nem quero. Não é um bom método e não posso dizer que tenha funcionado ao longo da minha vida miserável, mas é assim que sou e que funciono. Não sei. Não sei nada, não sei quem sou ou o que quero, perco-me em mim mesmo e no mundo sinto-me um fantasma. Sou um fantasma da minha própria existência, que ninguém vê. Mas eu vejo - e o pior é que tenho medo de fantasmas. Assusto-me a mim memso com os pensamentos que tantas vezes me ocorrem e às vezes sinto-me mesmo à beirinha de fazer mal a alguém ou a mim mesmo. Não sei se algum dia o faria. Não sei. Não sei mesmo nada.
Hoje foi um dia mau, um dia para esquecer, um dia que me faz sentir medo do dia que virá ámanhã. Espero que seja mais fácil, espero que me sinta mais calmo, espero não ter que voltar à medicação que aquele idiota do meu terapeuta me receitou há uns tempos atrás para eu conseguir viver melhor, segundo ele. Não quero, mas sinto-me entre a espada e a parede e secalhar não tenho escolha. A não ser que ámanhã leve mesmo uma arma para o trabalho e mate aquela gente toda, acabando com a frustração e ódio que me fizeram sentir hoje. Acho que isso resolveria mais do que um comprimido azul que contém 1 miligrama de alprazolam.
Preciso de ajuda e estou só. Hoje sinto saudades dos meus pais. Não dos pais que tive, porque desses só recebi desprezo e dôr. Hoje sinto falta daqueles com quem sonhei ter durante toda a minha infância enquanto tive que aturar os meus pais biológicos. Hoje precisava de ter um pai e uma mãe a quem telefonar, e que me dessem o apoio e o amor que pais são supostos dar. Mas não tenho. estou só. Hoje só me tenho a mim e nem me consigo olhar no espelho. Quero dormir e só acordar ámanhã. Quero dormir, fechar os olhos. Quero tanta coisa... quero tanto. E hoje sinto-me sem nada.
Talvez ámanhã seja melhor.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quando eu era pequeno nada fazia muito sentido lá em casa. Os meus pais nunca falavam, nem comigo nem um com o outro. Se se dirigissem um ao outro era aos gritos. Sentiam-se aliviados quando eu me fechava no meu quarto durante horas a brincar sózinho, o meu pai gritava quando eu fazia algum disparate - comigo e com a minha mãe, que segundo ele era a culpada por eu ser o desastre que era, e a minha mãe mostrava uma irritação enorme se eu perguntava simplesmente "o que é o jantar?" ou "posso ír brincar lá fora?". Nunca os entendi e nunca soube porque eles nunca me tentaram entender a mim. Não me lembro de os meus pais alguma vez me terem perguntado como tinha corrido o dia na escola, o que estava a aprender nas aulas de Matemática ou Biologia (as minhas disciplinas preferidas!) ou de mostrarem qualquer tipo de interesse nos meus hobbys. "Quando crescer quero ensinar matemática", dizia-
-lhes. Nenhuma reacção, nenhuma expressão no rosto deles que fosse sinal de interesse ou orgulho, nada. Um silêncio desencorajador.
Os meus pais foram sempre dois seres estranhos que viviam debaixo do mesmo tecto que eu. Se para muitas crianças o lar é onde se podem sentir seguras, para mim estar em casa metia medo e fazia-me sentir perdido. Mais medo do que o escuro do quarto depois das luzes se apagarem e do meu pai me dizer, com uma autoridade fria "hora de dormir, agora caluda." Como se alguma vez se ouvisse algum som naquela casa! Para além de gritos do meu pai e choros da minha mãe, o silêncio pesava o ar constantemente... A minha mãe tinha sempre uma expressão no rosto de quem está com medo, ou com dores, ou com nojo. Tinha a mania das limpezas e um dia inteiro a arrumar era um paraíso para ela. Pedia sempre desculpas pela desarrumação se alguém batesse à porta inesperadamente e apressava-se a lavar as mãos com sabonete e água a escaldar depois de tocar fosse no que fosse. O meu pai, que também gostava de manter uma ordem quase militar, ria-se dela e fazia comentários maldosos sobre aquelas manias. Senti pena dela até ter chegado a uma idade em que aprendi que ela devia ter mandado o meu pai dar uma curva e ter feito um esforço para me proporcionar uma infância da qual me pudesse orgulhar. Não é isso que mães deviam fazer? Mas isso nunca aconteceu. Os meus pais detestavam-se mutuamente e quem melhor para levar com as culpas dos erros deles do que o filho que não se pode defender contra os dois adultos que mais o intimidam?
Acreditava que quando crescesse e me podesse tornar independente que fosse ser mais feliz, mas houve algo que os meus pais conseguiram fazer bem durante a minha infância, que foi tornar-me no homenzinho medroso e incapaz que sou hoje. A culpa é deles. Nunca me quiseram ouvir, nunca me apoiaram, nunca me contaram histórias antes de dormir, nunca mostraram vontade em saber quem o filho deles era.
Quando eu tinha 14 anos comecei a escrever um diário. Sempre achei que diários eram coisas de raparigas, com páginas cor-de-rosa e cheirinho a gomas de morango, mas arranjei um bloquinho no meu entender mais apropriado a mim e ele tornou-se o meu melhor amigo. Chamava-o de Kent (tinha ouvido algo sobre o condado de Kent e gostei do nome)e contava-lhe tudo. Sem nunca me questionar ou apontar um dedo, ele esteve sempre lá para mim. Ás vezes imaginava que o Kent falava comigo, que me respondia às minhas incertezas e que me punha uma mão no ombro. Tudo o que eu desejava receber dos meus pais e nunca tinha recebido, imaginava receber do meu diário. Do Kent, o meu melhor amigo. Imaginava... até ao dia em que me deixei levar por uma frustração enorme e rasguei todas as páginas e queimei-as. Estava furioso, farto de falar com ele, de lhe confiar segredos e emoções sem receber nada em troca. Cansado da forma como ele me fazia sentir melhor, mas no final nada mudava. Dar, dar e dar sem nunca receber. Fartei-me! Lembro-me de ter roubado o isqueiro do meu pai, de ter tirado uma garrafa de álcool etílico do armário da casa-de-banho onde a minha mãe guardava uma farmácia capaz de matar um elefante, e de me ter fechado no meu quarto. Encharquei as folhas do diário em álcool e queimei-as. Foi um drama, ía pegando fogo à casa e os meu pai gritou com a minha mãe dizendo que a culpa era toda dela por ter um filho que só causava problemas... "já viste bem o teu filho? a culpa é tua, sempre a deixá-lo fazer o que quer!" Nunca percebi porque é que ele dizia à minha mãe "o teu filho", mas devia ser por vergonha de se sentir associado a mim. Acho que o meu pai sempre me viu como um fracasso e secalhar tinha pulado de alegria se descobrisse que eu era filho de outro homem qualquer, independentemente do que isso realmente significaria. Acho que ele olhava para mim e se via a ele próprio. Acho que era por isso que sempre me detestou, e a minha mãe também. Olhava para mim e via-o a ele... não era possível gostar dele.
Mas nunca entendi nenhum dos dois. Depois do quase incêndio naquela casa e de gritos e discussões entre os meus pais sobre mim (como se eu não os pudesse ouvir) apercebi-me de que tinha acabado de destruír o meu único amigo. Num arrependimento enorme por me ter visto livre do Kent, tive um ataque de choro. E agora com quem ía falar?... O meu pai ainda veio espreitar mais uma vez à porta do meu quarto naquele dia. Apenas para me dizer "já viste o que fizeste? A tua mãe está de rastos! Vê lá se paras de chorar e se aprendes de vez!"
Chorei durante horas pela perda do meu amigo, chorei até ter caído no sono. Mas não adormeci antes de fazer uma promessa ao Kent que, tal como tantos outros segredos que lhe tinha contado, ficaria só entre nós: "para a próxima vai ser diferente, prometo." E foi a esse pensamento que me agarrei daí para a frente, desde aquele momento até ter saído de casa de vez 13 anos mais tarde para que pudesse aguentar com um sorriso na cara e alguma satisfação indiferente, o ambiente que os meus pais me proporcionaram
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