quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vidēre...

Satisfaz-me, ensina-me, completa-me, enriquece-me, conforta-me, tira-me da solidão. Há quem chame a isto voyeurismo, mas como sempre que oiço a palavra voyeur associo a algo de errado ou a algo que ligado a alguma gratificação sexual, prefiro o latim vidēre.
Quando eu era novo a casa onde eu morava com uns pais lunáticos era o lugar mais assustador do mundo, era através da janela do meu quarto que encontrava muitas vezes o alívio que precisava, a busca e o escape para algo diferente da minha realidade. Olhava para as pessoas que andavam na rua, para as crianças que jogavam à bola na praceta e subiam às árvores, para a mulher que vivia no prédio à frente do meu e que pendurava a roupa no estendal todas as tardes, para aquele homem de idade que se sentava numa poltrona de cachimbo na boca a ler um livro no andar debaixo da mulher da roupa... era o olhar para diferentes vidas que me distraía da minha, que me levava para outros lugares e que me fazia acreditar que um dia, quando fosse mais crescido e podesse saír dali, poderia também ter uma vida assim, banal e simples, com altos e baixos como toda a gente. A minha infância foi um poço fundo e escuro e ainda não saí completamente dele.

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